"Se o ensino é superior, a pessoa que o abraça é digna de respeito. Assim sendo, desprezar essa pessoa é o mesmo que desprezar o próprio ensino. Isto é comparável a atitude de censurar uma criança, cujo ato é ao mesmo tempo uma censura aos pais. "
( Nitiren Daishonin )

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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Conto Vazio De Claudio Barbosa


Vazio

É um problema de estrutura. É preciso partir de uma analise cientifica e aplica-la à realidade. Que nada, não há solução. Claro que há, o marxismo... não senhor, discordo, o problema é a falta de unidade, nós entendemos que...
Pediu mais uma cerveja ao garçom e continuou a observar os amigos de merda. Enquanto olhava pensava “ mas será que tô ficando doido?” e fixou o olhar numa garota de olhos brilhantes que defendia entusiasmada a igualdade da sociedade. “Logo ela, que até me explorou e, pior, fez trapaça me passando para trás há algum tempo trabalhando juntos”? perguntou-se para logo depois observar os outros. “Ah! os outros estavam sempre no boteco e a discussão era cíclica”, conclui.
Pensou em ir embora, mas foi ficando.
“E você, Paulo?”, perguntaram os amigos de mesa.
“Eu?”, indagou.
“É, o que você acha?”, insistiram.
Pensou em falar sobre a falsidade das pessoas, da hipocrisia, da superficialidade da vida urbana..., “ mas provavelmente dirão que estou em crise existencial”, pensou.
“Sinceramente não acho nada, se achasse não estaria aqui”, falou.
Não prestou atenção aos comentários posteriores. Acendeu um outro  cigarro e foi ao banheiro. Nem mesmo sabia por que sempre ia se encontrar com aquelas pessoas. “Era falta de opção naquela droga de cidade”, concluiu. “Droga mesmo, repetiu para si”, enquanto retornava à mesa.
Olhou pata os lados e decidiu:
“Tenho que ir embora pra outra cidade”.
“O que, seu Paulo?”, indagou o garçom.
“Nada, só estava pensando”, justificou.
Voltou a olhar para os lados à procura de qualquer coisa que o levasse para longe daquela mesa. Não achou e retornou.
       “A questão é a correlação de forças”, tornou a ouvir a conversa da mesa.
“Não” – disse o outro, “eu enquanto parte das camadas populares...”. Deu um risinho e quase pergunta se ser das camadas populares era acompanhar a mulher médica nas compras. Mas não falou.
“Ei, amigo, outra cerveja”. Pediram os amigos ao garçom.
Só olhou.
“Nós temos que dá um golpe na ditadura”, manifestou-se um da mesa.
“Cigarro... quem tem cigarro?”, alguém perguntou.
“O ponto central – profetizou um outro – é a repressão sexual”.
“Não – retrucou outro – a vanguarda ainda é o conjunto dos estudantes”.
Pensou em perguntar quanto custara o conjunto que uma das meninas da mesa usava, mas só riu baixinho.
Bebeu o ultimo gole da taça e levantou-se.
“Pô, Paulo, ainda é cedo”, disse um amigo.
“É, é isso aí, a noite é uma criança”, completou o outro.
“ É – disse ele – mas manhã é dia de trabalho”, explicou.

( Cláudio Barbosa –Olhos da Noite)
Extraído de Antologia do Conto do amazonas, p. 321.


Marcinh♥

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