Vazio
É um problema de estrutura. É preciso partir
de uma analise cientifica e aplica-la à realidade. Que nada, não há solução.
Claro que há, o marxismo... não senhor, discordo, o problema é a falta de
unidade, nós entendemos que...
Pediu mais uma cerveja ao garçom e continuou
a observar os amigos de merda. Enquanto olhava pensava “ mas será que tô
ficando doido?” e fixou o olhar numa garota de olhos brilhantes que defendia
entusiasmada a igualdade da sociedade. “Logo ela, que até me explorou e, pior,
fez trapaça me passando para trás há algum tempo trabalhando juntos”?
perguntou-se para logo depois observar os outros. “Ah! os outros estavam sempre
no boteco e a discussão era cíclica”, conclui.
Pensou em ir embora, mas foi ficando.
“E você, Paulo?”, perguntaram os amigos de
mesa.
“Eu?”, indagou.
“É, o que você acha?”, insistiram.
Pensou em falar sobre a falsidade das
pessoas, da hipocrisia, da superficialidade da vida urbana..., “ mas
provavelmente dirão que estou em crise existencial”, pensou.
“Sinceramente não acho nada, se achasse não
estaria aqui”, falou.
Não prestou atenção aos comentários
posteriores. Acendeu um outro cigarro e
foi ao banheiro. Nem mesmo sabia por que sempre ia se encontrar com aquelas
pessoas. “Era falta de opção naquela droga de cidade”, concluiu. “Droga mesmo,
repetiu para si”, enquanto retornava à mesa.
Olhou pata os lados e decidiu:
“Tenho que ir embora pra outra cidade”.
“O que, seu Paulo?”, indagou o garçom.
“Nada, só estava pensando”, justificou.
Voltou a olhar para os lados à procura de
qualquer coisa que o levasse para longe daquela mesa. Não achou e retornou.
“A questão é a correlação de forças”,
tornou a ouvir a conversa da mesa.
“Não” – disse o outro, “eu enquanto parte das
camadas populares...”. Deu um risinho e quase pergunta se ser das camadas
populares era acompanhar a mulher médica nas compras. Mas não falou.
“Ei, amigo, outra cerveja”. Pediram os amigos
ao garçom.
Só olhou.
“Nós temos que dá um golpe na ditadura”,
manifestou-se um da mesa.
“Cigarro... quem tem cigarro?”, alguém
perguntou.
“O ponto central – profetizou um outro – é a
repressão sexual”.
“Não – retrucou outro – a vanguarda ainda é o
conjunto dos estudantes”.
Pensou em perguntar quanto custara o conjunto
que uma das meninas da mesa usava, mas só riu baixinho.
Bebeu o ultimo gole da taça e levantou-se.
“Pô, Paulo, ainda é cedo”, disse um amigo.
“É, é isso aí, a noite é uma criança”,
completou o outro.
“ É – disse ele – mas manhã é dia de
trabalho”, explicou.
(
Cláudio Barbosa –Olhos da Noite)
Extraído
de Antologia do Conto do amazonas, p. 321.
Marcinh♥
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