"Se o ensino é superior, a pessoa que o abraça é digna de respeito. Assim sendo, desprezar essa pessoa é o mesmo que desprezar o próprio ensino. Isto é comparável a atitude de censurar uma criança, cujo ato é ao mesmo tempo uma censura aos pais. "
( Nitiren Daishonin )

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Remexendo

Outro dia remexendo nos arquivos antigos da Veja eletrônica encontrei esta reportagem sobre Raquel de Queiroz.
confiram na integra a reportagem.Eu li e adorei e além de tudo relembrei.
 Sei que é um pouco grande mas, para saber mais de Raquel não há nada que nos impeça.

É preciso romance

Entrevista publicada em VEJA, em 2/10/1996.
A escritora cearense diz que nossa literatura precisa renovar-se e conta bastidores da Academia Brasileira de Letras.
Os amigos da escritora cearense Rachel de Queiroz, de 85 anos, costumam ao mesmo tempo elogiar seu talento e temer sua língua. Uma das maiores romancistas brasileiras,Rachel é também conhecida pela franqueza. Ela não disfarça suas opiniões e, para horror de seus colegas da Academia Brasileira de Letras, costuma levar a público as brigas e fofocas que acontecem nos bastidores da entidade. Apesar de uma hérnia de disco que nas últimas semanas a vem obrigando a visitar hospitais, Rachel anda feliz da vida. Ela acaba de ganhar o Prêmio Moinho Santista de Literatura — com os 50 000 reais que recebeu, diz que finalmente vai comprar um carro zero-quilômetro, abandonando o velho Monza 90, além de investir no reflorestamento de suas terras no Ceará. Rachel tem uma fazenda em seu Estado natal, mas vive no Rio de Janeiro, num apartamento no Leblon onde coleciona peças de arte sacra — embora seja atéia —, escreve suas crônicas semanais publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo e mantém o hábito de infância de dormir em rede. Ela falou a VEJA sobre literatura, seus colegas e a vida na Academia.




Rachel — Isso foi porque eu era a mais velha. Num ano o Brasil ganha o Camões, no outro ganha um português, e, quando Deus permite, ganha um africano. A primeira vez em que o prêmio seria concedido a um brasileiro foi em 1990. Fomos escolhidos para eleitores, eu, dom Marcos Barbosa e Américo Jacobina Lacombe. Nós já tínhamos tramado a candidatura de João Cabral, escondido de Jorge Amado. Isso porque tudo que era prêmio ia para o Jorge Amado. Já em 1993, quando o prêmio seria novamente concedido ao Brasil, o lobby do Jorge Amado estava muito forte. Os portugueses estavam pelo Jorge e os brasileiros por mim. Jorge tinha saído de um infarto e mesmo assim foi para Portugal fazer o lobby dele. Ficou hospedado no hotel onde haveria a eleição. Josué Montello, que achava que deveria ganhar o prêmio, escreveu um artigo explicando que quem tinha direito ao prêmio era ele. O artigo era imenso, com todo o currículo dele. 









Rachel — Tenho lido pouco por causa da vista. Na verdade não gosto de citar nomes, porque, como sou muito conhecida, os amigos ficam me cobrando. Gostei muito de dois livros do Ruy Castro: Estrela Solitária e O Anjo Pornográfico. Nesse último o Ruy fez um retrato muito fiel de Nelson Rodrigues. O livro O Último Tenente, de José Alberto Gueiros, que conta a vida do tenente Juracy Magalhães, também aprovei. Mas o que gosto mesmo é de romance, e é preciso aparecer novos bons romancistas. A gente vai ficando velha e esperando a safra nova. É verdade que quando a minha geração começou a escrever ninguém falava nada da gente. Era um grupo bom. Tinha o Graciliano Ramos, o melhor de todos, eu, o José Lins do Rego, o Jorge Amado. Só depois de algum tempo conseguimos espaço na crítica. Acho que pode surgir uma forte geração de romancistas paulistas com temas urbanos. Isso porque desde Mário de Andrade a literatura paulista não cresceu. Atualmente destacaria a Lygia Fagundes Telles, que é muito boa. Ela é de uma geração intermediária. Mas não é preciso pressa. A literatura é como floração — rebenta espontaneamente.






Rachel — Eu até tentei comprar um computador. Tinha um dinheiro separado e estava decidida a gastá-lo com isso. Não demorou três dias e a Zélia Cardoso de Mello nos deixou com apenas 50 000 réis. Depois disso, eu tinha uns dólares que sobraram de uma viagem à Europa. Então disse: “Vou gastá-los com um computador”. Aí veio um ladrão aqui em casa e colocou um três oitão na minha cabeça. Ele dizia as mesmas frases da Zélia: “Estamos sem liquidez, só queremos ouro e dólares”. Rasparam a minha gaveta. Então desisti do computador. Mais recentemente, o escritor Mário Palmério, que era muito meu amigo, inclusive fui eu quem o descobri, soube da história de que eu tinha sido roubada e disse: “Rachel, eu também quero um computador e arranjei um contrabandista. Eu vou mandar buscar um para mim e outro para você”. Depois ele me ligou avisando que o contrabandista tinha sido preso.



GOSTOSA A LEITURA NÉ? ME DEU SAUDADE ATÉ DA CORA (olha a intimidade!!)

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