"Se o ensino é superior, a pessoa que o abraça é digna de respeito. Assim sendo, desprezar essa pessoa é o mesmo que desprezar o próprio ensino. Isto é comparável a atitude de censurar uma criança, cujo ato é ao mesmo tempo uma censura aos pais. "
( Nitiren Daishonin )

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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A morte é o único fenômeno que anda de mãos dadas com a vida e que dela pode extrair seu oficio.Nós, os seres humanos à conhecemos intimamente e em todas as suas faces, para nós ela não é um fato isolado que ocorre de tempos em tempos. Não. Ela nós acompanha à cada passo que damos, igualmente faz o Amor e a Saudade. Porém a Morte dificilmente é bem recebida, como uma aliada da Vida. Ela é chorada, mal-dita,  e em sua chegada, carrega consigo, a perda e o desespero. Sem contar que a desesperança vem logo atrás. Contudo existem aqueles que na dor consegue enxergar o brilho divino e se inspiram. Foi o que ocorreu com um pesquisador que conheço: Maurício Adu Schwade. Sua mãe foi com Deus e disso nasceu um fruto saborosíssimo. A adaptação de um conto indígena. Li e me apaixonei. E logicamente pedi sua autorização para postá-lo aqui. Leiam, deliciem-se e tentem entender o mote da combinação Vida & Morte. Feliz Festas Natalinas e 365 dias de perspectivas.

Estas são palavras do próprio Mauricio.


Estava pensando em minha mãezinha querida. Na medida
 em que pensava, lembrei de um mito do povo indígena Manoki (Irantxe),
 com quem vivi por três anos. É o mito do menino que virou roça. Fiz
 uma pequena adaptação do mito, pois creio que tem muito a ver com
 minha mãe.


 A Menina que Virou Flor, Roça, Pomar, Amor

 Obs.: Adaptação do mito da origem da roça do Povo indígena Manoki, em
 homenagem a Doroti Alice Müller Schwade.

 Naquele Tempo vivia uma menina. Sempre que encontrava as pessoas ela
 perguntava se elas estavam bem e se estavam cuidando das outras e da
 natureza, mas as pessoas quase nunca respondiam e só assobiavam.
 - Vocês estão cuidando das crianças?
 - Fi...
 - Vocês estão cuidando das pessoas de quem foi tirado o direito a vida
 digna?
 - Fi...
 - Vocês estão respeitando as pessoas que tem cultura diferente?
 - Fi...
 Cada dia a história se repetia:
 - Vocês estão cuidando das águas?
 - Fi...
 - Vocês estão cuidando dos bichinhos?
 - Fi...
 - Vocês estão cuidando das florestas?
 - Fi...
 - O que vocês fizeram para que o reino de Deus floresça sobre a Terra?
 - Fi...
 Era sempre assim: a menina perguntava e as pessoas só assobiavam. Ela
 não gostava que as pessoas só assobiassem, ficou triste, zangou e
 disse para seus amigos:
 - Amigos, vamos andar por aí? Eu queria ficar perto da natureza.
 - Então vamos, menina.
 A menina arranjou umas ferramentas e os amigos saíram com ela por um
 trilho na mata. Chegaram a um acampamento. Ali a menina sentou-se e
 disse:
 - Amigos, olhe que lugar bonito, limpo e perto do mato! Vou ficar por
 aqui, vocês me enterrem aqui!
 - Mas por que você fal a assim? Perguntaram os amigos.
 - Vocês não viram? Já esqueceram? Sempre que encontro as pessoas e eu
 pergunto se fizeram alguma coisa para construir uma terra sem males,
 de mais respeito entre a humanidade e com a natureza, eles só
 assobiavam para mim e eu fiquei triste. Vocês podem me enterrar, mas
 não pensem que eu vou morrer.
 - Não vamos fazer isso com você! Vamos andando! Disseram os amigos.
 Chegaram a outro acampamento. A menina sentou e disse de novo:
 - Aqui vocês não vão deixar de me enterrar!
 - Vamos voltar para casa, menina, e assar peixe para comer.
 - Não amigos, cavem só um buraquinho, assim, raso e redondo, me deitem
 dentro, e me enterrem até o pescoço e eu vou ficar aqui mesmo!....
 - Mas menininha!...
 - Se vocês não me enterrarem pode ser que eu não possa mais contribuir
 para construir a terra sem males. As pessoas só assobiavam para mim!
 - Os amigos enterraram a menin inha do jeito que ela queria e começaram
 a chorar. Era de dia e a menina disse:
 - Amiginhos, não chorem! Vou morar aqui e só morro se vocês
 esquecerem-se de mim, não me atenderem e cuidarem de mim no tempo
 certo, não me semearem e cultivarem. Vocês preparem a terra, as
 ferramentas, esteiras de folha de buriti e recolham as sementes. E
 falem para as pessoas prepararem cestas, paneiros, panelas, ralos e
 tachos. Daqui a uns dias, quando vocês e as pessoas tiverem aprontado
 tudo isso, vocês venham aqui com eles e tragam paneiros e cestas.
 Agora vocês podem voltar para casa, amigos, mas, quando chegarem lá,
 não é para brigarem com as pessoas. E mais uma coisa: andem depressa e
 não olhem para trás.
 Os amigos não estavam entendendo nada daquilo e saíram caminhando
 ligeiro. Quando iam lá longe, veio uma grande tempestade fazendo um
 barulhão: wãh... wãh... Nessa hora, ouviram também uns cantos da
 menina e toques de diversos instrumentos:
 wãh...wãh...uñ...uñ...uñ...o...o...o...huñ...huñ...huñ... e outros
 cantos. Foram os primeiros cantos de uma nova esperança.
 Quando os amigos chegaram a casa, as pessoas não estavam, mas logo
 chegaram e perguntaram para os amigos:
 - A menina?!... Cadê a menina?
 Os amigos não responderam nada: estavam zangados com as pessoas.
 - Onde está a nossa menina? Perguntaram as pessoas de novo.
 - Vocês nunca respondiam nada para nossa menina, quando ela perguntava
 pelas criancinhas, pelos doentes, pelos desfavorecidos e pela
 natureza; e vocês só assobiavam... Já se esqueceram disto? Ela ficou
 muito triste e nos pediu para enterrar-la lá no mato. Depois que nós a
 enterramos ela disse: - Agora vocês vão embora, andando depressa, e
 não olhem para trás. Quando nós vínhamos vindo deu uma grande
 tempestade no mato, balançando as árvores, fazendo u m barulhão assim:
 wãh...wãh...uñ...uñ...uñ...o...o...o...huñ...huñ...huñ..., no lugar
 onde nós enterramos a nossa menininha. Tudo isso nós ouvimos.
 As pessoas choraram de tristeza e disseram:
 - Mas como vocês fizeram isso?! A gente só tinha essa menininha!
 E os amigos disseram:
 - E ela mandou dizer para vocês fazerem paneiro, ralo, e arranjarem
 tachos e panelas e, quando tiver tudo pronto, é para vocês irem lá
 conosco.
 Juntos então aprontaram tudo e foram ao lugar onde os amigos
 enterraram a menina, levando paneiros e cestas. No trilhozinho da mata
 viram onde a menininha antes brincava, apanhava cará, cortava a
 capoeira e plantava. E choraram de saudade, mas continuaram andando.
 Quando estavam perto de onde fora enterrada a menina, viram uma
 clareira na mata e os amigos disseram:
 - No lugar dessa clareira era mato, quando eu vim aqui naquele dia.
 Como é que é isso?
 Chega ram à beira da clareira e viram uma floresta de alimentos com
 tudo que era plantação, de flores, de frutas, de tubérculos, milho e
 tudo mais. Os amigos então disseram:
 - Nossa menininha não está aqui, mas foi dela que nasceu esta floresta
 de alimentos. Agora é que estamos entendendo o que ela falou: - Eu só
 morro se vocês se esquecerem de mim, não me atenderem e cuidarem de
 mim no tempo certo, me semearem e me cultivarem...
 Dos braços da menina nasceram mandioca e macacheira; dos dedos,
 ararutas e ariás; das unhas, amendoim; da cabeça, castanha e abiu; dos
 seios, amapá, sorva e coco; da costela, feijões pretos, rajados e de
 outros tons, quiabo e ingás; do coração taioba; das pernas, jatobá,
 cedro, e vários tipos de madeira; do fígado os carás; do pâncreas,
 andiroba; das vértebras, tucumã, açaí e pupunha; dos intestinos,
 batatas-doce, mamão, goiaba e maracujá; do dente, milho; das r oturas,
 cabaças e cuias; da língua e das orelhas, plantas medicinais; da
 saliva, copaíba; dos olhos, flores azuis; dos cabelos, flores brancas
 e amarelas; do sangue, flores vermelhas e urucum; e assim por diante,
 uma infinidade de cores e sabores brotaram da terra.
 Estava tudo no ponto de colher. Encheram os paneiros e cestas e
 levaram para alimentar todos com abundancia e mesa farta.



 Amiginhos, Mamãe sempre gostava de ver as pessoas felizes; e
 Creio que todos devem lembrar-se do seu sorriso e da sua alegria!!
 Por isso, alegrai-vos, ela sempre estará no meio de nós!!!
 Um fraterno abraço e beijo carinhoso para todos!!
Do jeito que Ela gostava de fazer!!!




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